Esta tem sido uma preocupação frequente dos pais, professores e demais profissionais envolvidos com os cuidados das crianças e jovens enquanto vivemos um período que ficará marcado na história da humanidade.
A resposta para essa pergunta é: sim e não.
O que ficará registado na memória das crianças e jovens que estão a viver este momento único durante o seu desenvolvimento e o impacto positivo ou negativo destes registos, depende não dos eventos, mas sim da forma como serão guiadas e amparadas pelos adultos.
Nós, cuidadores, não podemos controlar ou prever os desafios que precisarão ser enfrentados pelas nossas crianças e jovens, mas podemos ser fontes de apoio, equilíbrio, amor e segurança enquanto eles os atravessam.
Para compreender melhor o assunto, vamos falar sobre o que os estudos na área da psicologia, desenvolvimento infantil e neurociência têm mostrado a respeito do desenvolvimento cerebral, a formação das memórias e o papel fundamental que as emoções desempenham nesse processo.
As emoções são “a cola” que fixa as memórias no cérebro – quanto maior a carga emocional, mais importante aquela memória se torna. Durante os primeiros anos de vida desenvolvem-se o que chamamos de Memórias Base. São elas que determinam boa parte da personalidade e esquemas mentais de um ser humano.
As Memórias Base, juntamente com as emoções que as fixaram no cérebro, afetam a forma como um ser humano se percebe a si, aos outros e ao mundo, como lida com as circunstâncias da vida e como cria relacionamentos.
Aqui é importante assinalar que todas as emoções são importantes para um desenvolvimento saudável e equilibrado. O que faz com que uma situação tenha um impacto negativo no desenvolvimento de uma pessoa não é a situação em si, nem a emoção envolvida, mas sim a forma como elas foram processadas e elaboradas no momento.
A psicologia e a neurociência defendem que o caminho para um desenvolvimento saudável é não negar ou suprimir as emoções e sentimentos, mas aprender a lidar com eles. O trabalho com as emoções é importante durante toda a vida, mas especialmente durante a infância e a adolescência, quando estamos justamente a formar as nossas Memórias Base.
É aqui que a resposta à nossa primeira pergunta (A pandemia causará traumas e danos para as crianças e adolescentes?) poderá tornar-se um SIM ou um NÃO. Crianças e adolescentes, justamente por se encontrarem em fase de desenvolvimento e amadurecimento das estruturas cerebrais, não possuem recursos para processarem e elaborarem sozinhos os desafios e as emoções despertadas por eles. Pais, professores, cuidadores e educadores desempenham o papel fundamental de guiar este processo.
Na prática, o que você pode fazer para ajudar:
- Observe os seus filhos ou alunos e esteja atento para alterações de humor e comportamento.
- Ao notar que estão mais irritados, ansiosos, tristes e menos colaborativos, acolha e nomeie esses sentimentos.
- Permita que chorem, expressem raiva, frustração e qualquer outro sentimento e emoção.
- Auxilie no desenvolvimento de estratégias para lidar com esses sentimentos de forma mais adequada – escrever, desenhar, chorar, gritar num travesseiro, correr, tomar um banho relaxante, etc.
- Seja gentil, flexível e assertivo nas novas rotinas, transmitindo segurança e amor dentro das combinações que forem respeitosas para todos.
- Trabalhe as suas próprias emoções de forma adequada e saudável.
- Compartilhe com eles como você se sente e as suas estratégias para lidar com emoções menos positivas como o medo, a tristeza e a raiva.
Se for necessário, procure ajuda profissional. Nós, do Instituto Anna Mikii, estamos disponíveis para o ajudar a si, à sua família e à sua escola.
Durante os próximos dias, vamos compartilhar nas nossas redes sociais dicas práticas, livros e filmes para o apoiar ainda mais a ser um bom guia emocional para as suas crianças e jovens.
Eternamente Gratas, Ana Pedroso, Equipa Anna Mikii e as Crianças do Mundo